Meu primeiro carro foi um fusquinha 1300, amarelo, ano de 1968, que adquiri de meu pai, logo que o mesmo foi acometido de um derrame, ficando impossibilitado de dirigir. O mesmo tinha comprado a pouco tempo de um parente, sendo um carro de segunda mão, mas muito bem conservado. Quando adquiri ainda não sabia dirigir, pois sempre quis aprender no meu próprio carro e assim aconteceu. Comprei em um dia e no outro já fui procurar uma auto-escola a fim de me preparar para tirar a habilitação. A partir do carro, algumas coisas mudaram, uma obviamente foi deixar de andar a pé. Não perdia mais um filme, inicialmente nos cinemas de rua e depois nos Shoppings da cidade, pois podia ir à noite, ou a qualquer hora, usufruindo assim da liberdade que um carro proporciona. É bem verdade que no começo, a maior emoção não era o filme e sim na saída do cinema poder encontrar o fusquinha estacionado onde deixei, sem ter sido mexido por ninguém. Apesar de ter uma tranca no pedal e uma grande corrente do volante passando pelos pés do banco do motorista, que comprei logo que aconteceu um roubo de um Chevette que estava na frente do meu, estacionado em uma rua movimentada da cidade. Mesmo com duas trancas não deixava de ser uma preocupação com roubo, pois nessa época roubavam muito fusca para fazer bugre. Era um grande conforto que o fusquinha proporcionava, pois ir e voltar de carro para o trabalho, podendo chegar ao escritório descansado e sem ficar suado. Aos domingos colocava a família nele e íamos todos à praia. Mas o fusquinha começou a enferrujar, era tanto buraquinho e por ser um 1300, no semáforo, quando mudava da luz vermelha para a verde, todos os carros emparelhados arrancavam e eu ficava para trás. Era hora de comprar outro carro mais possante. Comecei a procurar um, mas só olhava fusca, achava que era mais fácil de dirigir, pois já tinha prática, só que nas revendedoras só encontrava fusca a álcool, era época daquela euforia do governo “carro a álcool, um dia você vai ter um”, mas eu não queria carro a álcool de jeito nenhum. Foi aí que numa sexta feira fui a uma grande loja autorizada da capital e encontrei um fusca a gasolina, de cor branca, só tinha ele, o resto era a álcool. Só que o mesmo estava reservado para um cliente do interior do estado. Voltei no sábado para arriscar e ele ainda estava estacionado lá no pátio. Fui rapidamente à procura do vendedor e este me falou que o prazo da reserva tinha terminado e aquele agora poderia ser meu. Deixei o fusquinha 68 como entrada e paguei a diferença. Nada como um carro novo, o cheirinho, tudo funcionando e no lugar. Era dezembro, final do ano de 1985. No começo tudo era só alegria, mas na primeira chuva, o piso do carro ficou cheio d’água. Havia um lugar na chaparia que entrava água quando chovia. A autorizada demorou a encontrar o defeito. Finalmente depois de muito aborrecimento, conseguiram resolver. Passei muitos anos com esse fusca, terminando por vendê-lo. Tenho saudades dos meus fuscas. Aliás, acho que todos que tiveram fuscas têm saudade dos mesmos, só não tem saudade de fusca os donos de oficinas.
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